Sommelier de fim do mundo

Sommelier de fim do mundo

Até hoje não experimentei nada como a safra de 2000. Uma produção tradicional, feita com toda a expertise finicultora medieval europeia, uma profecia envelhecida durante centenas de anos… Teve sabor diferenciado, convenhamos, com os pânicos acentuados pela leve gaseificação natural trazida pela perspectiva do bug do milênio. 

Mas isso não significa que a safra de 2012 tenha sido ruim, viu? De modo algum. Apesar de ter sido uma crença escatalógica mais jovem, com algumas centenas de anos menos, foi bem arrojada, demonstrando o potencial dos produtores mesoamericanos na concepção do apocalipse.

Essa safra 20/21 é que não tem condições, né? Colheita muito precoce, pouquíssimo tempo de maturação e de fermentação, muita dificuldade de arejamento, de colocar para respirar… Esse conjunto de características faz com que cada gole desse fim do mundo desça rascante e deixe um sabor muito acre na língua, que perdura por muitos meses, quiçá anos. Não recomendo.

Táscia Souza

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